Calaran é uma cidade de começos. Situada na baia de Crimas, foi o primeiro ponto onde os humanos fincaram raízes ao cruzar o Mar das Lamúrias e chegar em Anthar.
Nos últimos anos, os grupos humanos se espalharam, conheceram as raças do continente, ficaram amigos de alguns povos e inimigos de muitos, como o normal da raça humana. E aquela primeira cidade se tornou o símbolo do inicio dessas jornadas.
Hoje, Calaran continua empurrando pessoas para aventuras, só que por um caminho diferente: Varias ilhas do Mar das Lamurias possuem antigos segredos dos grupos humanos de além mar. Segredos de magos poderosos, reis esquecidos e Deuses adormecidos. Toda sorte de aventureiros, piratas, eruditos e caçadores de fortuna se lançam ao mar nos meses de verão em busca de fama, tesouros, conhecimento ou uma chance de mudar de vida.
A taverna " O Orc fajuto" é uma das mais antigas da cidade. Varias Histórias de aventuras começaram ali, como também vários fracassos. Por incrível que pareça, o que unia os jovens naquela mesa era um fracasso.
- Não acredito que estou aqui... buscando salvar o tão poderoso Senhor da Vingança... O Deus das batalhas deve estar mesmo me testando....
Renk de Anthar. O meio-elfo filho de Tâmis com uma camponesa. A relação com seu pai foi tumultuada. Carregando o peso da lenda do pai nas costas, todos esperavam que o jovem fosse um mago poderoso. Mas o sangue humano, e rebelde, falou mais alto. Dedicou-se a treinamentos marciais e, por fim, saiu do convívio com sua família para se tornar um devoto do Deus da Guerra. Muitas batalhas se passaram desde sua separação familiar. Agora, teria que restaurar o equilíbrio que Tâmis criara com sua presença como Deus da Vingança. Esse "retorno as raízes" o deixava um pouco confuso a respeito dessa missão.
- Relaxe um pouco camarada! Esse trabalho vai ser bico. É só encontrar um sujeito bom de magias de remover maldição que fica tudo belezinha, né não??
Smash Toon. Também meio-elfo, porém pela via oposta. Seu pai é Slash Toon o maior ladrão do mundo, um humano. Porém sua mãe era uma elfa, Lua Rubra, a maior ladra do mundo.
Do título "maiores ladrões do mundo" surgiu uma grande rivalidade. Essa rivalidade se tornou desavenças. Desavenças essas que, pelos lances do destino, viraram amor. Daí nasceu Smash, outro filho de lendas que não possuía todos os talentos dos pais. Lua Rubra era uma especialista em fugas. Slash um sedutor e punguista. Smash se tornou um espadachim. Ainda que fosse furtivo a sua maneira, tinha muito da fanfarronice de seu pai, o que não é exatamente uma qualidade.
-Concordo com Renk-san. Devemos nos apressar em trazer Tamis-sama de volta a sua forma original. Sua alma está se distorcendo e transformando. Ele pode resistir alguns meses, mas depois desse prazo, será irreversível.
Karin, a Shinigami. Durante seus anos de aventuras, Tâmis se encontrou com esta misteriosa viajante dimensional.Os Shinigamis dedicam sua vida a encaminhar as almas dos mortos para seu descanso eterno. Karin entendia do risco da situação, mas não compreendia completamente os hábitos dos seres desse mundo repleto de magia.
-Mesmo os mais poderosos sacerdotes de minha ordem não foram capazes de faze-lo. Acredito que somente uma poderosa força vital serviria para retirar tal maldição.
Luna, a jovem clériga humana. Seu semblante sereno e suas roupas alvas e limpas contrastavam com o ambiente da taberna. Ela entendia a dimensão do problema.
Tâmis de Anthar, o Deus da Vingança, caíra perante uma poderosa maldição. Era uma situação grave. Além dele, outros poderosos heróis estavam debilitados ou desaparecidos. Com muito custo companheiros de Tamis prenderam sua forma amaldiçoada em um templo de Lena.
É um momento crítico. Todos ali tinham alguma ligação com o herói caído. Foram convocados por Tamis em um de seus raros momentos de lucidez. Ele deve, de algum modo, saber que eles seriam sua única chance. Uma chance improvável para um grupo improvável.
-Então, o que você sugere, sacerdotisa? Que entremos nos túneis onde Tâmis se deu mal para pegarmos uma maldição também? – Indagou Renk, irônico.
-Não não! Nós podemos fazer isso! – Luna rebate tranquilamente, abrindo um pergaminho sob a mesa.
-Este é um relato sobre uma força vital poderosa que existe em um templo da Deusa da Vida, a muito tempo esquecido no mar das Lamúrias. A localização é um mistério. Mas nós temos sorte! – A sacerdotisa sorri com franqueza – Esta é uma época em que os navios exploradores vão para o Oeste e podemos aproveitar para pegar uma carona!
-Quantas vezes você já saiu em expedições, sacerdotisa? – Renk já estava irritado com a situação, mais ainda com o bom-humor de Luna.
-Nenhuma. Mas eu treinei muito na Ordem da Vida e moro aqui em Calaran a anos. Sou bem crescidinha e sei me defender! – Disse Luna cantarolando.
-Pelos Deuses... – Renk sacode a cabeça e bebe outro gole do vinho. Aquele grupo era pequeno demais para a missão. Não tinham nem um especialista em magia arcana. Mas era um começo, contudo.
-E aí pessoal? Que rumo tomaremos, por onde devemos começar? – Smash indaga observando as inscrições do pergaminho. – Se está no mar, deve estar em uma ilha, provavelmente? Isso vai demandar um barco. A propósito, precisamos levantar uma grana pra viagem!
- Dinheiro não é? Vamos ter de nos virar com o pouco que temos... devo ter uns cobres aqui comigo. Espero que dê para pagar essa porcaria de vinho. – Renk bebe mais um gole e faz uma careta – Até onde sabemos o problema está selado em um templo da deusa da vida em uma dessas ilhas próximas, creio eu. Mas alugar um barco não será fácil sem dinheiro.
Renk observa a porta da taverna. Tudo começaria ao passarem por ela.
- Vamos sair e procurar um jeito de conseguir dinheiro ou conseguir um barco... o que for mais fácil. Se ficarmos aqui só conseguiremos dor de cabeça por causa do vinho ruim... - O meio-elfo bebe mais um gole a contragosto.
- Tenho vários amigos no porto! Poderemos encontrar algum barco que nos levaria pelo mar das Lamúrias! – Luna comenta, enquanto enrolava o pergaminho.
- Então não temos tempo a perder. O problema com certeza será dinheiro... – Karin pega algumas moedas e deposita na mesa para a conta da cerveja – Também não temos muito tempo para os devidos preparos.
-Então vamos! – Renk se levanta mal-humorado – Que a sorte seja nossa companheira. Estamos muito as cegas nessa situação. Se vamos encontrar essa tal "força vital", precisaremos de bem mais que pensamento-positivo!
Os heróis saem da taverna e se dirigem ao porto principal.
-E aí parceiro? - Smash dá um tapa no ombro de Renk. Os dois se conheciam a anos - Você nunca foi um líder de equipe Renk, que tal nossas chances hein??
-Difíceis. Talvez nem consigamos sair dessa cidade a tempo. Mas tanto faz. O poderoso Tâmis que fique com suas maldições.
-Cara, você está vacilando! Essa é nossa grande chance! - Smash fica a frente do colega meio-elfo e o segura pelos ombros - Agora a gente mostra para aqueles velhotes que não somos os "filhos dos heróis" mas sim os verdadeiros heróis!
-Não preciso de nada disso, Smash! - Renk se desvencilha do amigo - faço porque ele pediu minha ajuda e nada mais. Um devoto da guerra não foge a batalha!
-Tabom.... não está mais aqui quem falou... - Smash se afasta e puxa conversa com Luna e Karin.
Enquanto Renk fica para trás, caminhando devagar. Pensando nas palavras do amigo.
"Verdadeiros heróis"
E dá um discreto sorriso.