sábado, 25 de fevereiro de 2017

Campanha de RPG: Expedição a Ilha Kroa. CAPÍTULO 09: O Segredo do Capitão Harub

PROLOGO: Conversa de Estalagem
CAPÍTULO 1: Heróis Improváveis.
CAPÍTULO 2: Capitão Harub!
CAPÍTULO 3: A partida do Porto!
CAPÍTULO 4: Luta ou dança?
CAPÍTULO 5: O ataque dos Kobolds!
CAPÍTULO 6: A entrada para o Quadrilátero da Névoa!
CAPÍTULO 7: Duelo em alto-mar! Harub vs Edgard!
CAPÍTULO 8: Espólios

CAPÍTULO 9: O Segredo do Capitão Harub.

O vento fresco da floresta traz uma sensação reconfortante. Já estavam a um bom tempo no mar, sentindo o cheiro da maresia e o balanço do barco. O solo firme aos seus pés era um alívio.

Os marujos começam o penoso trabalho de encalhar o Avante para reparos. Puxando com cordas e aproveitando o recuo da maré, o barco ficou bem equilibrado entre dois bancos de areia.

-Vamos precisar de madeira de qualidade o quanto antes. Devemos contatar a tribo de elfos que habita o norte da ilha o quanto antes. – Capitão Harub comenta enquanto analisa os trechos avariados do casco do Avante.

-Deixe essa tarefa conosco capitão – Renk se prontificou, com Smash ao seu lado. – Apesar da desconfiança natural entre elfos e meio-elfos, somos fluentes na sua língua.

-Só não comecem uma guerra com eles! Vocês dois são muito esquentados! – Harub comentou sorrindo – Vão e levem alguns homens com vocês. Afinal, precisarão carregar a madeira.

Os meio-elfos selecionaram os homens mais ativos no combate contra o Toninha: Os marujos que conseguiram segurar o avanço dos bucaneiros de Edgard estavam ajeitando suas mochilas para a jornada até a vila élfica quando Smash se aproximou deles.

-Tenho uns presentinhos! – Smash mostra as pistolas retiradas dos homens de Edgard – Sabem usa-las?

-Claro! – Um dos marujos agarra uma das armas e checa as suas condições – Só não temos dinheiro para ter nossas próprias.... – Todos os homens dão risadas desdentadas. Smash percebe que aqueles homens tinham muita experiência de vida e, o que não tinham de capacidade de batalha, teriam de versatilidade.

-MUITO BEM PESSOAL! – Renk ajusta a armadura e toma a dianteira – VAMOS!

A Medida que a expedição se afasta, outro grupo começa seus próprios preparativos.

-Então a parte Sul é mais adequada para buscar alimentos, Harub-san? – Karim se sentia desconfortável com o calor, mas estava ansiosa para ser útil a expedição.

-Sim sim... mas seja cautelosa. Os lagartos gigantes da ilha podem se tornar agressivos.

-Luna-san, você virá conosco? – Karin estranhou o silencio da sacerdotisa. Nas últimas horas ela estava muito focada, auxiliando no desembarque do equipamento e na construção do acampamento.

-Não... Ficarei aqui. Ainda temos uns feridos! – Luna sorria como sempre.

-Certo. Então estamos indo! – Karim começa a caminhada em direção ao Sul.

Luna observa o canita com o canto do olho. A conversa entre ele e Edgard e aquela luta mortal a incomodavam enormemente. Harub era filho de Edgard. Como pai e filho se tornaram inimigos mortais?

-Agora somos você e eu, Capitão...

***

Harub estava sentado em uma pedra grande quando Luna saltitou alegremente até seu lado e sentou-se também.

-Então Capitão! Agora o senhor e eu teremos uma amistosa conversinha. – Havia um tom de ironia na voz da sacerdotisa – Que tal começarmos com o quanto o senhor comece essa ilha?
Harub ficou em silêncio. Olhava para o Avante e para o acampamento que seus marujos construíam na praia.

-Não deveríamos fazer o acampamento dentro da mata? O senhor não tem medo de que Edgard nos encontre? – A provocação era proposital. Luna queria informações e, para isso, faria o canita se agitar.

-ACHA REALMENTE QUE TENHO MEDO DELE?? – Harub se levanta apontando o dedo para a moça.

-NORMAMENTE FILHOS TEMEM SEUS PAIS!!!! – Luna reagiu prontamente e também levantou. Parecia que Harub já estava no limite, pois uma rasa ironia foi o bastante para transbordar sua raiva . As sacerdotisas da Deusa da Vida sabiam o tanto que podiam usar as palavras para purgar, ou ferir, as pessoas.

-VOCÊS ESTÃO PRESTES A TER UMA PROVAÇÃO TERRÍVEL E FICAM FALANDO DE BATALHAS E DANÇAS! – A medida que o Capitão despejava sua ira sobre Luna, os marujos continuavam seu trabalho cabisbaixos. Sabiam da dor de seu líder.

-VOCÊ... VOCÊ.... – Luna estava irritada também. Aquele mistério a tirava do eixo. Harub guardava tudo aquilo dentro de si. Era uma ferida antiga, uma sensação amarga. Ela não poderia deixar aquilo continuar.

-VOCÊ É MEU AMIGO! CUIDOU DE MIM E DO PESSOAL ATÉ AGORA! POR QUE NÃO ME DEIXA CUIDAR DE VOCÊ?? POR QUE NÃO ME DEIXA TENTAR CURAR SUA DOR??? – As lágrimas de raiva e frustração já enchiam os olhos da sacerdotisa – QUER FICAR IGUAL AO MONSTRO DO SEU PAI???

A comparação atingiu fundo o coração de Harub. Por um instante, a imagem de seu pai e dele mesmo surgiram em sua mente. Sentiu um aperto no peito ao constatar que os anos realmente o levavam cada vez mais para o abismo onde Edgard estava.

-Sente-se, senhorita Luna. Vou contar-lhe tudo. – Capitão Harub se senta novamente na pedra – Tudo mesmo.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos. Luna enxugava as lágrimas enquanto Harub preparava seu espírito para reviver algo que desejava esquecer.

-Não é o local do acampamento que me preocupa, sacerdotisa. A ilha toda é bem perigosa para pessoas que não respeitam a natureza. Foi por desrespeito que eu e Edgard pagamos um preço alto.
Ao observar a expressão de Luna, Harub emenda:

-Temos tempo até que seus amigos voltem e acredito que seja o momento de dizer como vocês conseguirão o balsamo. Vê aquela cadeia de montanhas ali? No centro delas existe uma caverna, guardada por um Dragão. Este ser terrível protege uma fonte onde jorra o liquido milagroso. Porém, esse liquido tem um preço.

-Meus amigos são fortes. Eu também. Acho que poderíamos pegar o balsamo negociando ou ate mesmo lutando com a criatura. Dragões são orgulhosos, mas temem pela própria vida como qualquer outro ser.

-Você NÃO entendeu menina! Ele pede uma VIDA pelo balsamo! É UMA VIDA POR OUTRA! – Capitão Harub grita consternado.

-Como assim, uma vida por outra? Como um dragão pode ter tal poder? – Luna estava horrorizada.

-Foi a muitos anos. Meu pai, eu ainda um garoto e minha mãe navegávamos pelo Quadrilátero. Meu pai era um explorador audacioso, voraz até. Minha mãe era... a luz de nossas vidas. Quando chegamos na ilha Kroa, pensamos até que seria um local para colonização, meu pai fazia planos.
-Foi quando eu caí adoentado. Eu, em minha ignorância infantil, comi uma fruta venenosa. Minha mãe, em desespero, saiu pela ilha e encontrou o dragão. A criatura barganhou minha salvação pela vida dela.

-Quando acordei, estava sem minha amada mãe. Nunca mais a vi. Mas tinha a certeza que estava vivo através de seus sacrifício. Além dela, perdi meu pai em vida: Ele se tornou um homem amargo e me culpava. Quando pude me sustentar, parti. Meu pai caiu em decadência e se tornou aquela caricatura que vimos na entrada do Quadrilátero.
Luna estava com a mão na boca, chocada. A vida de Harub não era apenas triste, o destino arrancou daquele homem o amor de sua família.

-Não sei quem você deseja salvar, Sacerdotisa Luna. Mas esteja preparada para tirar uma vida por essa salvação.

Luna abraçou o canita. Lagrimas sinceras corriam.


-Nós vamos encontrar um jeito, amigo Harub. A vida sempre encontra um jeito.