CAPÍTULO 1: Heróis Improváveis.
CAPÍTULO 2: Capitão Harub!
CAPÍTULO 3: A partida do Porto!
CAPÍTULO 4: Luta ou dança?
CAPÍTULO 5: O ataque dos Kobolds!
CAPÍTULO 6: A entrada para o Quadrilátero da Névoa!
CAPÍTULO 7: Duelo em alto-mar! Harub vs Edgard!
CAPÍTULO 8: Espólios
CAPÍTULO 9: O Segredo do Capitão Harub.
O vento fresco da floresta traz uma sensação reconfortante.
Já estavam a um bom tempo no mar, sentindo o cheiro da maresia e o balanço do
barco. O solo firme aos seus pés era um alívio.
Os marujos começam o penoso trabalho de encalhar o Avante
para reparos. Puxando com cordas e aproveitando o recuo da maré, o barco ficou
bem equilibrado entre dois bancos de areia.
-Vamos precisar de madeira de qualidade o quanto antes.
Devemos contatar a tribo de elfos que habita o norte da ilha o quanto antes. –
Capitão Harub comenta enquanto analisa os trechos avariados do casco do Avante.
-Deixe essa tarefa conosco capitão – Renk se prontificou,
com Smash ao seu lado. – Apesar da desconfiança natural entre elfos e
meio-elfos, somos fluentes na sua língua.
-Só não comecem uma guerra com eles! Vocês dois são muito
esquentados! – Harub comentou sorrindo – Vão e levem alguns homens com vocês.
Afinal, precisarão carregar a madeira.
Os meio-elfos selecionaram os homens mais ativos no combate
contra o Toninha: Os marujos que conseguiram segurar o avanço dos bucaneiros de
Edgard estavam ajeitando suas mochilas para a jornada até a vila élfica quando
Smash se aproximou deles.
-Tenho uns presentinhos! – Smash mostra as pistolas
retiradas dos homens de Edgard – Sabem usa-las?
-Claro! – Um dos marujos agarra uma das armas e checa as
suas condições – Só não temos dinheiro para ter nossas próprias.... – Todos os
homens dão risadas desdentadas. Smash percebe que aqueles homens tinham muita experiência
de vida e, o que não tinham de capacidade de batalha, teriam de versatilidade.
-MUITO BEM PESSOAL! – Renk ajusta a armadura e toma a
dianteira – VAMOS!
A Medida que a expedição se afasta, outro grupo começa seus
próprios preparativos.
-Então a parte Sul é mais adequada para buscar alimentos,
Harub-san? – Karim se sentia desconfortável com o calor, mas estava ansiosa
para ser útil a expedição.
-Sim sim... mas seja cautelosa. Os lagartos gigantes da ilha
podem se tornar agressivos.
-Luna-san, você virá conosco? – Karin estranhou o silencio
da sacerdotisa. Nas últimas horas ela estava muito focada, auxiliando no
desembarque do equipamento e na construção do acampamento.
-Não... Ficarei aqui. Ainda temos uns feridos! – Luna sorria
como sempre.
-Certo. Então estamos indo! – Karim começa a caminhada em
direção ao Sul.
Luna observa o canita com o canto do olho. A conversa entre
ele e Edgard e aquela luta mortal a incomodavam enormemente. Harub era filho de
Edgard. Como pai e filho se tornaram inimigos mortais?
-Agora somos você e eu, Capitão...
***
Harub estava sentado em uma pedra grande quando Luna
saltitou alegremente até seu lado e sentou-se também.
-Então Capitão! Agora o senhor e eu teremos uma amistosa
conversinha. – Havia um tom de ironia na voz da sacerdotisa – Que tal
começarmos com o quanto o senhor comece essa ilha?
Harub ficou em silêncio. Olhava para o Avante e para o
acampamento que seus marujos construíam na praia.
-Não deveríamos fazer o acampamento dentro da mata? O senhor
não tem medo de que Edgard nos encontre? – A provocação era proposital. Luna
queria informações e, para isso, faria o canita se agitar.
-ACHA REALMENTE QUE TENHO MEDO DELE?? – Harub se levanta
apontando o dedo para a moça.
-NORMAMENTE FILHOS TEMEM SEUS PAIS!!!! – Luna reagiu
prontamente e também levantou. Parecia que Harub já estava no limite, pois uma
rasa ironia foi o bastante para transbordar sua raiva . As sacerdotisas da
Deusa da Vida sabiam o tanto que podiam usar as palavras para purgar, ou ferir,
as pessoas.
-VOCÊS ESTÃO PRESTES A TER UMA PROVAÇÃO TERRÍVEL E FICAM
FALANDO DE BATALHAS E DANÇAS! – A medida que o Capitão despejava sua ira sobre
Luna, os marujos continuavam seu trabalho cabisbaixos. Sabiam da dor de seu líder.
-VOCÊ... VOCÊ.... – Luna estava irritada também. Aquele
mistério a tirava do eixo. Harub guardava tudo aquilo dentro de si. Era uma
ferida antiga, uma sensação amarga. Ela não poderia deixar aquilo continuar.
-VOCÊ É MEU AMIGO! CUIDOU DE MIM E DO PESSOAL ATÉ AGORA! POR
QUE NÃO ME DEIXA CUIDAR DE VOCÊ?? POR QUE NÃO ME DEIXA TENTAR CURAR SUA DOR??? –
As lágrimas de raiva e frustração já enchiam os olhos da sacerdotisa – QUER FICAR
IGUAL AO MONSTRO DO SEU PAI???
A comparação atingiu fundo o coração de Harub. Por um
instante, a imagem de seu pai e dele mesmo surgiram em sua mente. Sentiu um
aperto no peito ao constatar que os anos realmente o levavam cada vez mais para
o abismo onde Edgard estava.
-Sente-se, senhorita Luna. Vou contar-lhe tudo. – Capitão Harub
se senta novamente na pedra – Tudo mesmo.
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos. Luna
enxugava as lágrimas enquanto Harub preparava seu espírito para reviver algo
que desejava esquecer.
-Não é o local do acampamento que me preocupa, sacerdotisa.
A ilha toda é bem perigosa para pessoas que não respeitam a natureza. Foi por
desrespeito que eu e Edgard pagamos um preço alto.
Ao observar a expressão de Luna, Harub emenda:
-Temos tempo até que seus amigos voltem e acredito que seja
o momento de dizer como vocês conseguirão o balsamo. Vê aquela cadeia de
montanhas ali? No centro delas existe uma caverna, guardada por um Dragão. Este
ser terrível protege uma fonte onde jorra o liquido milagroso. Porém, esse
liquido tem um preço.
-Meus amigos são fortes. Eu também. Acho que poderíamos
pegar o balsamo negociando ou ate mesmo lutando com a criatura. Dragões são
orgulhosos, mas temem pela própria vida como qualquer outro ser.
-Você NÃO entendeu menina! Ele pede uma VIDA pelo balsamo! É
UMA VIDA POR OUTRA! – Capitão Harub grita consternado.
-Como assim, uma vida por outra? Como um dragão pode ter tal
poder? – Luna estava horrorizada.
-Foi a muitos anos. Meu pai, eu ainda um garoto e minha mãe
navegávamos pelo Quadrilátero. Meu pai era um explorador audacioso, voraz até.
Minha mãe era... a luz de nossas vidas. Quando chegamos na ilha Kroa, pensamos
até que seria um local para colonização, meu pai fazia planos.
-Foi quando eu caí adoentado. Eu, em minha ignorância
infantil, comi uma fruta venenosa. Minha mãe, em desespero, saiu pela ilha e
encontrou o dragão. A criatura barganhou minha salvação pela vida dela.
-Quando acordei, estava sem minha amada mãe. Nunca mais a
vi. Mas tinha a certeza que estava vivo através de seus sacrifício. Além dela,
perdi meu pai em vida: Ele se tornou um homem amargo e me culpava. Quando pude
me sustentar, parti. Meu pai caiu em decadência e se tornou aquela caricatura
que vimos na entrada do Quadrilátero.
Luna estava com a mão na boca, chocada. A vida de Harub não
era apenas triste, o destino arrancou daquele homem o amor de sua família.
-Não sei quem você deseja salvar, Sacerdotisa Luna. Mas
esteja preparada para tirar uma vida por essa salvação.
Luna abraçou o canita. Lagrimas sinceras corriam.
-Nós vamos encontrar um jeito, amigo Harub. A vida sempre
encontra um jeito.