PROLOGO: Conversa de Estalagem
CAPÍTULO 1: Heróis Improváveis.
CAPÍTULO 2: Capitão Harub!
CAPÍTULO 3: A partida do Porto!
CAPÍTULO 4: Luta ou dança?
Os dias seguintes trouxeram consigo muito trabalho para a tripulação do Avante: O manejo da embarcação, como atestaram os heróis, era mais complexo do que parecia. A cada momento, o Capitão Harub pedia a um marujo soltar uma corda ou soltar uma vela. Enquanto faziam suas tarefas, os marujos cantarolavam poemas sobre o mar, saudade e tesouros.
Para Renk, era o momento de fazer o reconhecimento de sua “tropa”: Conhecia bem Smash desde sua juventude, mas Karin e Luna eram pontos de interrogação. A Shinigami fora indicada pelos amigos de seu pai e Luna era uma sacerdotisa sem experiência em aventuras. Saber os limites de cada uma era essencial para traçar estratégias. Então o meio-elfo começou as aproximações.
Renk e Karin estavam encostados na amurada, observando o mar.
- Karin... como é do outro lado? O que acontece depois da Morte? – Pergunta o meio-elfo, sem tirar os olhos do mar.
A Shinigami se surpreendeu com a súbita indagação do guerreiro. Mas Karin compreendera a intenção de Renk em conhecer mais sobre ela do que sobre os mistérios do mundo. Uma atitude digna de um líder de equipe. Assim, falou o que sentia:
-A morte, Renk-san, é algo pelo qual não devemos ter medo nem anseios. Devemos apenas aproveitar o tempo que é nos dado de vida da melhor forma possível, pois um dia , assim sem avisar, ela chega para todos. O outro lado pertence apenas para quem já cruzou a ponte entre os dois mundos.
-Então, não temos como saber com certeza, não é? – Renk sorri enquanto olha o mar infindável.
-Não, Renk-san. Nem nós Shinigamis temos controle sobre o destino da almas. Nós apenas os guiamos pelas pontes. Obviamente – A shinigami toca em sua espada – alguns oferecem mais resistência em abandonar o mundo material que outros.
-Se depender de mim, você terá emprego por muitos anos nesse mundo, Shinigami. – Renk sorri novamente. Agora tinha uma noção melhor do motivo de Karin ser chamada para essa equipe. Era uma especialista em vida espiritual e observava o mundo por uma perspectiva afastada, diferente.
Alguém que vê onde os outros não conseguem ver.
-SENHORITA KARIN! PODERIA SUBIR NA VELA MESTRA E PUXAR AQUELES CORDAMES??? – Capitão Harub também percebeu as habilidades do bando logo.
-SIM! Com licença, Renk-san. – Karin fez uma reverência rápida para o meio-elfo e subiu o mastro em uma sequencia de saltos. Renk se virou e desceu as escadas do deck superior, em direção ao convés principal.
Já conhecia Smash a tempo o suficiente para lutar com plenas forças ao seu lado. Agora era hora de entender melhor como funcionava a cabeça da sacerdotisa Luna.
No convés, Luna dançava cercada de marujos. Smash batucava um barril enquanto a sacerdotisa rodopiava e cantava.
-Estamos com sorte de nenhum barco hostil ter se aproximado, assim podemos perder tempo com um pouco de dança e música... – Renk comenta em tom frívolo.
-Relaxa cara. Um pouco de cantoria não vai atrair um dragão! – Smash rebate.
- Essa história de contar com a sorte não é muito o meu jeito de resolver as coisas – Luna rodopia em direção a Renk - mas já que não podemos prever o futuro, poderíamos celebrar a vida, não é?
Luna para bem na frente de Renk, os rostos próximos.
Renk conhecia a ladainha dos pacifistas. Sempre empurrando a responsabilidade da luta para outros, ou a chamando a luta de algo “errado”. Para isso tinha resposta fácil.
-Cara clériga da vida, não se pode realmente prever o futuro, mas as batalhas diárias nos guiarão até ele. Sejam os guerreiros contra seus inimigos, sejam os camponeses que lutam para tirar seu sustento da terra... lutar é viver.
Luna dá mais um giro, se afastando do meio-elfo. Sua postura muda também.
-Desde que não forcem a morte Renk a luta é bem vinda.... vamos treinar? – Luna fica em uma posição de combate, com os braços levantados e pernas flexionadas – Já que, pelo visto, música vc não toca.
Os marujos ficam atiçados com a cena, outros se aproximam curiosos.
-“Um treino marcial, não é? Bom momento para testar a capacidade defensiva dessa moça” – Renk se aproxima de um marujo e tira de sua mão um bastão.
- Não procuro a morte. Nem a temo. Meu temor é partir desta vida definhando em uma cama em algum templo de Lena ou Marah. Eu vivo pela espada. E pela espada morrei. No meu caso, a morte é só uma passagem para os campos de batalha eternos do além vida.
Renk segurou o bastão como se fosse uma espada, apontando-a para Karin. Em seu rosto, um sorriso sincero.
- Mas se quer dançar, que seja dessa forma. Não quero ferir um companheiro de viagem antes da batalha real.
- Opa! Quem quiser apostar, cola aqui comigo que não tem erro! – Smash pega um chapéu de palha de um dos marujos e começa a passa-lo.
- Ah Smash, sem isso por favor. Eu... – O comentário de Luna é interrompido pelo súbito avanço de Renk.
-Não perca o foco! Seu oponente está na sua frente! – Renk faz um movimento lento e longo, visando o braço esquerdo da sacerdotisa.
Luna tira o corpo do rumo da arma e gira novamente, saindo do alcance do meio-elfo.
-“Rodopios, esquivas...se fosse para valer, tinha-lhe quebrado o braço.” – Renk analisa.
-Impossível você me acertar. – Luna sorria enquanto balançava de um lado para outro – Meu gingado está em um equilíbrio perfeito. Tenho mais treino nesta dança que você!
- Não mesmo minha cara! – Renk avança novamente, com a espada junto ao corpo. Dessa vez o golpe foi reto, visando o pescoço.
Luna girou para a esquerda, se aproximando da murada da embarcação. Quando terminou o giro, a espada ainda estava próxima demais!
- “Rápido demais!!” – Luna conclui no momento que sente o bastão encostar de leve em seu braço.
- Você pode ser ótima em dançar e se esquivar... mas uma luta não pode ser vencida se você somente se defender! – Renk se afasta para dar espaço para a colega. Afinal, aquilo também serviria de treino para Luna.
- Se não percebeu que estou lutando para valer – a postura de Luna mudou novamente, agora com os braços para baixo – você foi iludido, minha dança o confunde.
Luna avança sobre Renk velozmente. O meio elfo antecipa o movimento e arma a defesa.
-“Chute direto, de cima para baixo. Bem efetivo e eficaz....”- Para a surpresa de Renk, o chute errou.
Acertou logo a frente dele.
E um soco direto acerta o pescoço do meio-elfo.
-Bem no gogó!!! – Smash comemora, enquanto alguns marujos lhe entregam dinheiro.
-Eu luto para preservar a vida. – Luna se encosta no mastro da embarcação – Não preciso derramar uma gota de sangue.... paramos por hoje?
Em um instante, Renk vence a distancia entre ele e Luna e golpeia com a mão nua o mastro do
Avante com uma força assustadora, bem ao lado da cabeça da sacerdotisa. Pedaços de madeira, cordas e o sangue do meio-elfo voam com a violência do impacto. Sua expressão era de puro ódio.
Seus olhos estavam vermelhos como sangue.
Porém, no instante seguinte, seus olhos já retornam a coloração normal.
-MUITO BEM! DEU EMPATE PESSOAL! TO DEVOLVENDO O DINHEIRO! – Smash, percebendo a situação, resolve dispersar os marujos.
Renk colocou a mão ferida com o impacto em uma grande cicatriz no seu pescoço, enquanto tossia e se afastava de Luna. A sacerdotisa o observava com um misto de surpresa e medo.
O meio-elfo fala com a voz rouca.
-Cuidado... tem certas coisas... que não posso... fazer com companheiros de viagem... É muito difícil me controlar como fiz agora... cuidado da próxima vez... Luna. – Renk se afasta e desce as escadas para os alojamentos do Avante.
-
O-O que foi isso? – Luna pergunta para Smash, enquanto examina o buraco que um simples soco fez em um mastro de madeira maciço.
-Renk é um servo do Deus da Guerra, garota! Se provocado, ele acaba ficando daquele jeito. Perde um pouco a noção das coisas, mas fica forte pacas! Sorte nossa que ele está do nosso lado né?
-Sorte? – Luna tocou a área destruída pelo soco. Ainda tinha sangue do guerreiro alí.
- É muito triste, isso sim.
***
Horas depois, Karin estava ao lado do timão, com Capitão Harub.
-Capitão Harub-san, com quantas pessoas já viajou por esses mares? Sua embarcação parece que já viajou muito.
-Com muitas, pequena Karin. De todos os tipos. De valorosos aventureiros a covardes trambiqueiros. Todos que sobreviveram se recordam da experiência, o Quadrilátero cobra sua entrada escrevendo memórias em você. Quando estivermos mais próximos, você verá que...
Súbito, os marujos do ninho de corvos gritam:
- VULTOS ABAIXO DA LINHA DA ÁGUA NA POPA!!!!
Harub sorri de modo sombrio.
-Hunf! Chegaram cedo dessa vez! Minha jovem, chame seus amigos ao convés. Vocês terão uma pequenina amostra do Quadrilátero da névoa aqui mesmo.
-TODOS OS HOMENS! POSIÇÕES DE BATALHA!
A marujada correu até armas que pareciam improvisadas: Tridentes de pesca, redes e porretes.
Estavam tensos e aguardavam do lado da murada do barco.
E quando eles aparecem. Saídas da água, criaturas humanoides saltam e se agarram ao barco as dezenas.
Renk mal pode acreditar em seus olhos exclama:
-São Kobolds! Kobolds marinhos!
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